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quarta-feira, 9 de março de 2011

A Condição Pós-Moderna.

          Interatividade, conectividade e grande capacidade de acesso à informação são alguns avanços trazidos pela tecnologia. Com ela veio inúmeras mudanças sociais, políticas e econômica tão fortes que inauguraram uma nova era para a humanidade: o pós-modernismo. Esse nada mais é que a série de alterações nos padrões de comportamento nas sociedades, ou devo dizê-la no singular, já que se fala numa grande aldeia global, efeito da globalização alavancada pela tecnologia.

          Na série “Os Grandes Conflitos do Pós-Modernismo” preparado para O Evanesceu vou mostrar os efeitos dessa nova era para as relações sociais e para a nova organização do mundo. Apesar de seus avanços, ela trouxe também uma série de problemas que limitam a participação social e direitos políticos adquiridos sob muitas lutas em outras eras. Vou começar a série explicando as condições ao qual o Pós-Modernismo se estrutura para daí partir para uma reflexão ideológica sobre seus efeitos nocivos para o desenvolvimento social.

         Vivemos num tempo onde os governos mal pensam no bem-estar social. Isso se deve ao amplo desenvolvimento das corporações. Segundo o estudo feito para a produção do documentário “A História das Coisas” de Annie Leonard a maioria das economias do mundo são de geradas de capital corporativo, assim observou-se uma mudança no cenário governamental ao qual Estados soberanos se veem mais preocupados com o bem estar das empresas que os de sua própria nação.

          O mais preocupante é que essas instituições privadas nem são nacionais, compõem o que hoje se entende por empresas transnacionais, de capital aberto que não pertencem a nenhuma nação em especial, assim, elas se apropriam dos recursos naturais e humanos dos países para obter o seu lucro sem nenhuma preocupação social, política ou econômica para essas nações. Enquanto isso o Estado mal atua contra essa investida porque simplesmente, as corporações são maiores que a sua própria soberania, pois a própria economia neoliberal prevê tais acontecimentos. Com isso a sociedade perde em atuação política. Com essas empresas mundiais sediadas em lugares desconhecidos, instituições como sindicatos perdem força perante os gigantes anônimos.

        E para contribuir com tamanho cenário, entra em cena outro grande titã da Pós-Modernidade: a informação. O que parecia ser um agente benéfico para as sociedades só impulsionou o que teóricos como Jean François Lyotard, autor de “O Pós-Moderno”, nomeou de “ramificações políticas”, em que movimentos de caráter étnico e de outras minorias sobrepõem-se a interesses de nível nacional. Em outras palavras, houve a pluralização de movimentos de gênero, raça, classe e opção sexual atuando separadamente a reivindicações talvez mais interessantes a todas essas minorias. Estimulou-se isso, pois com cada minoria atuando em separado, aquela força política de caráter revolucionário diminui dentro de uma sociedade cada vez mais voltada a interesses particulares.

           Nestor Garcia Canclini, em seu estudo sobre consumo e cidadania, explica que houve uma inversão do privado com o público ou até mesmo a confusão de seus conceitos. Com isso ainda ocorrem manifestações e lutas sociais, mas sempre procurando atender a interesses minoritários, assim, pouca ou nenhuma mudança no cenário político atual ocorre.

Gostaria de ressaltar que não é a informação o principal problema e sim o seu uso. Lyotard afirma em seu livro que aconteceu uma separação do sujeito e do conhecimento por ele produzido, seria o fim das metanarrativas. Para melhor explicar esse conceito vou tomar emprestada a metáfora de Jacques Derrida, outro grande filósofo contemporâneo. Ele comparou o conhecimento pós-moderno a uma grama, que não possui uma raiz única, onde não é possível descobrir sua origem e que rapidamente se altera e se alastra. Até aí tudo bem se não fosse a falta de profundidade dessa narrativa, esse conhecimento não se questiona, simplesmente é difundido. Lyotard ressalta em seu estudo que devemos nos voltar a árvore, que possui uma raiz única que se aprofunda a vários metros e se alastra a várias direções, mas  que se estrutura num tronco único e após inúmeras discussões se divide em várias ramificações.

           O fenômeno da grama num mundo em rede é bastante familiar, mas o que Lyotard denuncia é que a informação passa a estar acima do sujeito que a cria. Fator preocupante, pois tem-se uma sociedade com grande participação cultural, mas que não é capaz de postular novas formas de fazer cultura e a moda mostra bem esse fenômeno, sempre se negando a si mesma, mas em termos essenciais mantém a mesma estrutura.
A moda é um assunto bastante abrangente que pretendo discutir nos próximos post’s, mas sua indústria é grande contribuinte para a saúde financeira das empresas citadas lá em cima e em termos culturais, é um exemplo bastante gritante de como a informação atua para a atender interesses cada vez mais minoritários.

           Ainda postulando sobre a informação, na sociedade pós-moderna nota-se um grande avanço do setor de serviços, fato importante para a estruturação da nova economia onde o rápido aumento da área de TI impulsiona um mercado onde conhecimento e criatividade sustentam toda a sua base (e essa vai todos os publicitários!).

         Talvez esse ponto seja o mais democrático de toda a condição trazida pela Pós-Modernidade, pois estimula a livre concorrência entre gerações (vejam o texto “Sopa de Letrinhas”, neste mesmo blog) e a constante busca para não ficar ultrapassado e sempre ficarem atento as novidades, ou até mesmo participar delas. Entretanto, atuamos num mundo capitalista, lembram-se das empresas transnacionais citadas acima? Pois é, elas buscam o lucro incessante e, exigem profissionais cada vez mais qualificados, mas não estão dispostas a arcar com salários compatíveis a esse nível. E onde entra a globalização nesse processo? Bom, as empresas, sem nenhuma preocupação social e blá, blá, blá, simplesmente procuram nações onde esses profissionais são mais baratos. E dá-lhe indianos de telemarketing para confirmar.

          Bom, o cenário não parece dos mais animadores, e não é mesmo. Sob o amparo de diversos teóricos pretendo mostrar como essa condição atua nas mais diversas áreas e no final tentar iniciar uma série de postulações que podem contribuir para a diminuição desses problemas. De uma coisa não podemos fugir, a pós-modernidade está aí e com ela todos os seus efeitos, fica até difícil prever alguma coisa num universo em constante mudança, mas apesar do mar não estar pra peixe, podemos estar diante de uma era onde o que você pensa, que desejos e sonhos tem, nunca foi tão importante expressar e dizer.

Para Saber Mais:

A HISTÓRIA DAS COISAS - Annie Leonard


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Pós-Modernidade

Nas livrarias:

CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e Cidadãos : Conflitos Multiculturais da Globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. 268p. CASTILHO, K. ; GALVÃO, D.
LIPOVETSKY, GillesL´empire de l´éphémère. La mode et son destin dans les sociétés modernes. Ed. Gallimard: Paris, 1987.
LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. 8ª Ed. Rio de Janeiro, 2004. José Olympio, 2004, 131p.
DERRIDA, Jacques. La voix et la phenomène, PUF, Paris, 1967.

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Moda: Um reflexo das Manifestações Pessoais
Artigo Acadêmico escrito pelo mestre em Comunicação Social Felipe Soares



LYOTARD, Jean-François. A Condição pós-moderna. 8 ed. Rio de Janeiro: Jose
Olympio, 2004. 131p

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