Para os roteiristas de plantão, elaborar roteiros fora de ordem cronológica e que não faça o público ficar com aquela cara de “ÃÃ!” não é uma coisa simples de fazer. Entretanto, esse não pareceu problema para o mago dos roteiros Quentin Tarantino ao escrever (com certeza, ainda na máquina de datilografia) Pulp Fiction. Não foi à toa que a obra audiovisual recebeu em 1995 o Oscar, justamente, de melhor roteiro original.
A obra tarantinesca é uma junção de três histórias que ao mesmo tempo que são independentes e parecem não haver muita ligação, se encontram do jeito mais inesperado possível para o espectador. A primeira história começa com uma cobrança de Vicent Vega e Jules Winfield, dois mafiosos, a mando de seu chefe Marcellus Walace. A segunda retrata uma saída noturna de Vincent com a espoca de Marcellus, Mia Wallace, para que ela se divirta enquanto ele viaja a negócios e a terceira conta a história de Bugde, um pugilista que foi comprado por Wallace e não cumpre o acordo e que precisa fugir do mafioso.
A quebra da ordem cronológica é uma marca de Tarantino. A idéia é que os personagem, dentro das histórias, se alternem na posição de protagonistas. Na primeira história Vincent aparece como personagem principal, já na segunda, Mia Wallace aparece como protagonista e como o coadjuvante.
Todo o enredo se passa dentro do cenário da violência do subúrbio de Los Angeles e os personagens tratam a criminalidade com bastante normalidade, outra marca de Tarantino. Além disso, o sucesso alcançado pelo diretor, Pulp Fiction serviu para consagrar grandes atores como Uma Thurman, até então uma desconhecida, no papel de Mia e o retorno de boas atuações de John Travolta que na época não vinha em grande fase, tanto que Travolta aceitou fazer o filme por reles U$ 100 mil.
O talento de Tarantino para filmes é incontestável e Tempos de Violência (título em português) é um ótimo portfólio do cineasta. Além dos recursos e técnicas utilizados, a mensagem por trás da história aumenta o valor da obra. A enigmática passagem bíblica recitada sempre às vésperas das execuções de Jules, traz pouco do objetivo do filme. Ezequiel 25:17 diz:
“O caminho do justo está cercado por todos os lados pelas inequidades do egoísta e pela tirania dos maus. Abençoado seja aquele que em nome da caridade e da boa vontade conduz o caminho do fraco pelo vale da morte, pois ele é verdadeiramente o guardião e o protetor dos filhos perdidos. E eu o tornarei deles grandes vinganças com furiosas repreensões sobre aqueles que tentam envenenar e destruir os meus irmãos e saberão que sou o senhor quando eu tiver exercido minha vingança contra eles.”
A passagem traz uma reflexão sobre três figuras: o homem mau e o pastor que guia o fraco. Quando no início do filme traz um casal que opta por seguir a criminalidade em detrimento de uma vida justa e honesta e em seguida anuncia um assalto é vista por Jules, em seu momento de transição como um ato de fraqueza diante de uma triste realidade personificada que as pessoas passam, então, ele apesar de questionar-se sobre qual seria o seu papel nessa parábola, afirma estar numa tentativa de com sua experiência guiar os fracos para o caminho do bem. Profundo não?
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